Benedito Barros um piauiense segundo ele
informou ao chegar em Laranjeiras, era do povoado Buraco Sadio, município de
Piripiri. Muito engraçado e amante da embolada, que Mário de Andrade em MACUNAINA,
aproveita como modo de cantar e a inclui como forma erudita da poesia. Benedito
era um admirador e adorava ouvir os Violeiros que o meu Pai contratava para
animar finais de semanas Laranjeirenses e quando tinha cantorias ele pedia
empréstimo de dinheiro trocado, pois gostava de pôr moedas na bandeja dos
cantadores e receber os agradecimentos em toadas. Ele mesmo engendrava suas
emboladas cantando "sou Benedito Barros, barroca funda, briante, briantina
de inloquicê ar meninas" e se sentia um poeta ou um emboladeiro. Nós o
aplaudíamos para valorizá-lo, claro.
Trabalhador e muito respeitoso, analfabeto, mas
curioso, ouvindo o Padre José Costa celebrando uma missa no Festejo de Santo
Antônio, padroeiro de Laranjeiras, gravou bem a parte do sermão ou homilia,
quando o padre mencionou que Jesus Cristo pregando disse que " é mais
difícil um Rico entrar no reino do Céu, do que um pobre " e me perguntou
se isto era verdade mesmo, pois eu sabia ler. Informei a ele que era verdade e
que estava escrito num livro chamado Bíblia Sagrada. Ele se contentou com o meu
esclarecimento, mas disse: marrêu inda rô inrricá, á si Rô!
Muito tempo se passou, Benedito Barros
continuava trabalhando para Papai, sem, no entanto, esquecer o problema de Rico
não entrar no Céu, até que num certo dia quando ele tocou no assunto novamente,
eu lhe disse: preste bem atenção no que eu vou lhe dizer sobre o que Jesus
Cristo disse, Ele não falou que os RICOS não podem entrar no Reino de Deus,
entretanto é mais difícil, do que um pobre de bom coração e honesto. Se o Rico
for uma pessoa bondosa, honesta, ajudar os pobres, frequentar a igreja e cumprir a Palavra de Deus, é
lógico que merecerá a glória de quando morrer, ingressar no Seu REINO,
entendeu? Ele abriu um largo sorriso e disse, Agora INTINDÍ sin-ôzim!
Durante mais de dois anos o meu amigo Benedito
continuou conosco e na nossa última conversa ele me chamou para conversarmos e
começou assim: Djalma, eu tên-u muinta condição de sê Rico e pudê entrá no Céu,
só tá mi faltânu é o Din-êroo e as ôutas côizas cuma ôro, munta terra, munto
gado, munto carro de boi, muntos animáus, márru o réxtu eu tên-u. Rimos juntos
sem comentários da minha parte. Foi a nossa última conversa e quando vim passar
as férias de julho, Papai pesaroso, disse-me: o nosso amigo Benedito Barroca
Funda voltou para a Terra dele com o que ganhou trabalhando e O SONHO DE SER
RICO.