*Por Anaximandro Silva Cavalcanti
A CORRUPÇÃO INSTITUCIONALIZADA
Esse processo trás serias
consequências sociais, como por exemplo: a desnaturação das instituições
democráticas. Outrora, a toga e a beca, eram vestimentas respeitadas, que
traziam um significado de seriedade, justiça, poder, respeito; hoje parecem
roupas engraçadas; até mesmo as palavras: “réu”, “culpa”, “transgressão”,
“punição”, “lei”, “justiça” estão vazias de seus significados culturais, já não
acreditamos nelas. Seus ideais e valores, já não fazem mais sentido.
Quando alguém que ocupa, um
cargo de altíssimo escalão em uma empresa, partido político ou outra
instituição qualquer, até mesmo em uma secretaria municipal de irrelevante
significância, se “demite” de seu lugar simbólico. Ele deixa de sustentar, por
meio de seu ato, os valores instituídos. O efeito dessa “demissão” é a
corrupção e a desnaturação dessa imagem simbólica. Esse é o quadro que temos no
caso do juiz apanhado usando bens apreendidos de Eike Batista. O que acontece é
que o vínculo, até então naturalizado, entre a palavra “juiz” e o significado
“justiça”, vai se enfraquecendo, até que, no limite, se dissolve e se
desnatura.
O que estamos aprendendo na
“nova ordem” mundial, é que o crime compensa, os meios justificam os fins. Decapitam-se
pessoas em prol de um nada, valores são quebrados, a família é constantemente
agredida em seus lares em prol de um sonho perverso de uma minoria paranoica. Hoje,
a corrupção se institucionalizou. Tornou-se uma cultura e se reproduz de forma
autônoma. Ela desqualificou a lei e se tornou um valor, um modo de vida. Hoje
já não há limites. Na desnaturação da lei, todos perdem a autoridade; essa
perda de autoridade e falta de limites é que contribui para a propagação da
ideia de que se pode tudo. Tudo é liberal.
O desvio de recursos é
criminoso e, certamente, prejudica o país, mas a institucionalização da
desqualificação da lei coloca em risco a democracia. Pois, de um lado temos o indivíduo
antigoverno, que coloca toda a cor da lama em uma só pessoa, a presidenta; do
outro lado temos os pró-governo e uma visão paranoica do tipo “nós, os
bons/justos, contra eles, os maus/desleais, que ameaçam nossa democracia.
Vemos hoje no país, grupos
convocando, ora pela via do amor, ora pela via da intimidação e do ódio seus
simpatizantes e militantes à defesa de seus credos. Essa polaridade, bom/mal,
justo/injusto, lubrificada com a institucionalização da corrupção tente
naturalmente a dividir a população em dois polos, que perigosamente se armam uns
contra os outros.