*Por Francisco Carlos Machado
AS
XÍCARAS DE PORCELANAS DA MINHA MÃE
Estando
com um grupo de três amigos professores da cidade de Sítio Novo: Lucimeire Carreiro, Raimundo Machado, Silvia Coelho,
discutíamos quem na cidade desta porção sul do Maranhão poderia nos emprestar
ou alugar um conjunto de xícara de porcelanas, para ser usado em um Chá
Literário, na escola da Aldeia
Jerusalém, presentes alguns escritores,
professores e lideranças indígenas, outros artistas locais e nós quatro
que desde julho, decidimos nos unir para
executamos com demais professores índios
um Programa de Estímulo à Leitura Krikati, diante da Biblioteca organizada
desde janeiro de 2022 na citada aldeia.
Então,
nesta reunião de planejamento falava-lhe no conjunto completo de xícaras,
pratos, bules e vasilhas de Porcelanas
da minha mãe - patrimônio há mais de 30 anos em casa - e do uso deles nos eventos literários e ambientais do saudoso GLDB – Grupo de Leitores de
Duque Bacelar e da ABAMA – Associação
Bacelarense de Proteção ao Meio
Ambiente, em tarde elegantes e prazerosas, no qual uma historiadora
locai afirmou no livro Vozes Poéticas dos Morros Garapenses, que “bom mesmo era se deixar relaxar com saraus
regados a chá e torradas, em tardes memoráveis”, trechos escritos da
historiadora referente ao movimento de estímulo a leitura, aos livros e a
literatura, em minha cidade e região, hoje colhedores de bons frutos na vida
pessoal de quem se envolveu, como para nossa cultura regional.
Nem
sempre foi fácil minha mãe ser convencida que o uso magnífico do conjunto de porcelanas
dela em meus eventos, não trariam algum prejuízo as peças, principalmente,
quando nos chás e saraus, participavam as crianças do meu grupo de leitura.
Mas, já se passaram muitos anos de tantas reuniões de chás, envolvendo adultos,
crianças e jovens, nenhuma se quebrou ou trincou. Assim, até hoje as porcelanas
da minha mãe são usados em saraus públicos e particulares em minha casa, e sem vaidade,
escrevo: elas fazem parte da história da cultura local.
Agora,
penso com carinho das porcelanas de mamãe, distante 900 km, do quanto eles me
trouxeram momentos agradáveis, querendo – as para o sarau na aldeia. Como não
será possível, nós da comissão do MUSINO – Museu de Sítio
Novo e do PLEITK – Programa de Estímulo à
Leitura Krikati, estamos tomando
as providencias para o Primeiro Chá das cinco
na aldeia e o Primeiro Sarau Intercultural Krikati,
tenha não somente xícaras de porcelanas no chá, mas que tudo
aconteça muito organizado, bonito, elegante também no
Sarau Intercultural, cujo objetivo maior é conseguir
unir mais os laços de amizade com indígenas e brancos nesta região onde
ainda existe etnocentrismo,
discriminação e preconceito contra os povos originários e sua cultura.
Não foi fácil,
no início alavancar o movimento do livro, da leitura e da literatura na região
da APA dos Morros Garapenses (hoje com muitos frutos); como neste limiar do
movimento do livro, da leitura e da Biblioteca entre os indígenas e brancos,
também não nada sido.
Entretanto, é possível, mesmo difícil. É um
trabalho duro, com incompreensões de alguns, tendo um misto de prazer e aprofundamento de
amizade e viver felicidade no buscar consolidar o diálogo com indígenas e brancos,
no ato de degustar em xícara de chá de porcelanas e em cuias de coité; mais bebendo sucos de caju e açaí em copos de vidro
e cujuba; declamando poemas em Krikati e em português, em um sarau intercultural, no qual os resultados, trazendo
unidade e amizade, unirá povos e
culturas peculiares desta parte do
Brasil profundo.
SOBRE O AUTOR-