Ouvidor da Polícia diz que imagens apontam para 'uma possível execução' em caso da última semana na zona sul da capital
A reportagem não encontrou a
defesa dos dois policiais militares e não havia a confirmação de que eles
haviam sido presos até a publicação desta reportagem.
Um vídeo, supostamente da ação,
que circula nas redes sociais e que está sendo analisado pela polícia, mostra
os militares disparando contra os suspeitos dentro de um carro acidentado e com
as portas abertas. Dois jovens sem antecedentes criminais, de 19 e 23 anos
morreram no local. A Polícia Militar instaurou um inquérito e afastou das ruas dois PMs.
A PM afirmou, em nota, que os
dois homens mortos haviam participado de um roubo e fugido em um Chevrolet Onix
pelas ruas do bairro. Na fuga, eles cruzaram um semáforo vermelho, bateram em
um Honda Fit e depois em um poste de sinalização no cruzamento da rua Rubens
Gomes Bueno. Uma mulher ficou ferida.
VÍDEO DOS TIROS A QUEIMA-ROUPA DOS POLICIAIS
Na delegacia, os policiais
disseram que um dos suspeitos desembarcou do carro com uma arma na cintura e
não obedeceu a ordem de largar a arma. Os PMs, ainda segundo a polícia,
disseram que diante da “iminente agressão” atiraram contra os dois e o jovem
armado caiu baleado no banco do motorista.
Um dos policiais explicou ainda
que abriu a porta traseira do veículo e viu o outro suspeito com um revólver na
mão. Segundo ele, o jovem efetuou um disparo, mas a arma falhou. Ele disse que
“diante da injusta agressão” revidou e o baleou.
No entanto, o vídeo que circula
nas redes sociais não mostra os suspeitos reagindo à abordagem policial nem os
PMs em posição de proteção diante de qualquer tiro ou agressão. A perícia
encontrou 27 perfurações de tiros no corpo de um dos jovens e 23 no outro.
A Polícia Militar afirmou que as
imagens da ação dos militares foram anexadas ao inquérito policial. As
investigações são feitas pela Corregedoria da PM e pelo DHPP
(Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa), da Polícia Civil.
“A Polícia Militar não compactua
com desvios de comportamento e se mantém diligente em relação às denúncias ou
indícios de transgressões ou crimes cometidos por seus agentes”, disse a
corporação, em nota, afirmando que eles já haviam sido afastados das ruas.
O ouvidor da Polícia, Elizeu
Soares, afirmou que tudo precisa ser apurado com rigor, com o devido direito de
defesa sem prejulgamentos. No entanto, ele afirma que as imagens divulgadas
apontam para “uma possível execução”.
“Estou cobrando continuamente o
governo do estado para que acelere o processo de instalação de câmeras nos
uniformes dos policiais [parte da corporação já usa]. Essa medida vai proteger
a população e também os bons policiais".
Soares falou que pediu à
Corregedoria da Polícia Militar que investigue o caso e que o faça com
agilidade e rigor. Ele também pediu o afastamento imediato dos policiais
envolvidos até pelo menos o fim das investigações.
“Respeito aos direitos humanos
também é uma responsabilidade da polícia, e nada justifica execuções. É preciso
acabar com a violência em todas as suas formas”, enfatizou.
O advogado Ariel de Castro
Alves, especialista em direitos humanos e segurança pública pela PUC
(Pontifícia Universidade Católica) de São Paulo e membro do Grupo Tortura Nunca
Mais, afirmou que, pelas imagens, aparentemente os PMs não estão agindo como se
estivessem numa situação de confronto.
Castro disse que possivelmente
as vítimas estavam rendidas, desarmadas ou até desacordadas. “Em nenhum momento
eles [policiais] estão se protegendo de disparos. O que podemos ver são eles
efetuando disparos quando estavam em posições de ataque e não de defesa, diz
Castro.