Imaginei em propor um Contrato com o Senhor nosso DEUS Pai CRIADOR,
depois transformado em Prece, tentando aumentar a minha permanência
nesta NAVE chamada VIDA, com este pouco
de memória e de lucidez, a fim de que eu
possa contar tudo o que Vi e Vivi durante a minha bela Infância na minha Amada
e Querida Buriti. MARIA JOSÉ, o único homem que eu conheci com este nome,
segundo ele mesmo informava ao ser perguntado era considerado por muitos, um DOIDO. Estava sempre com um pequeno saco
de pano dependurado em uma cópia de espingarda bate bucha de madeira bem
trabalhada no ombro, e fazia alguns
mandados, pequenas compras.
A todas as perguntas que se faziam a
ele, inclusive porque o seu nome era Maria José ao invés de José Maria
ele respondia bem forte : NÚN CÊI, QUEM SÁBI É DEUS E NOSSA SIM-ÓRA. Para ele,
a Praça Felinto Faria era o Mar e muito perigoso, INGÓLI AGENTI, dizia ele, e
mesmo se lhe oferecessem dinheiro, ele
não passava sobre ela. Recebia pelos
seus serviços , moedas e alimentos, bolachas e fatias de bolos eram os seus
preferidos, que agradecia com um sorriso e, se lhe perguntassem, GOSTOU, Maria
José ? Prontamente respondia: NUN
CÊI, QUEM SÁBI É DEUS E NOSSA SIM-ÓRA.
De compleição física FORTE,
MARIA JOSÉ era um mestiço, índio acaboclado e muito simpático, apesar de
poucas palavras e, por esta razão nunca foi molestado nem mesmo pelas crianças peraltas. Era do POVOADO Saquinho,
no entanto permanentemente vivia no centro da cidade e dormia ou no local onde
se realizavam os LEILOES dos
festejos católicos, no terraço do CORETO
localizados na Praça, ou ainda ao abrigo
das árvores existentes nos fundos da IGREJA Matriz de San’ tana.
Assim viveu a sua jornada terrena e quando faleceu, meu Pai avisou-me
dizendo: O teu amigo Maria José morreu esta semana deixando boas lembranças. Contristado,
contive as lágrimas ao relembrar a minha convivência com ele e o muito que
aprendi com o seu jeito Especial.
O SABONETE FEBO, assim chamado por ser um Negro Preto retinto, como
dizia minha mãe, aquele preto recapeado ou repintado. Eu nunca soube a sua
origem, não demonstrava à primeira vista, sinais de debilidade mental. Gostava
muito de beber, água, refresco ou garapa de cana de açúcar. Era também muito
útil para executar pequenas tarefas, compras, recados e até serviço de limpeza
doméstica em geral, não muito pesadas. Preferia de pagamento, em especial os
refrescos ou a garapa, e era neste momento que se podia notar algum sinal de
anomalia .
Se lhe dessem dois litros dessas delícias,
ele bebia no próprio litro de vidro, em no máximo três GOLADAS, como ele
dizia sorrindo descontroladamente.
SABONETE era divertidíssimo
exatamente por ter o sorriso alongado assim: RISSSSSSSSS,RARRRRRRR, RURRRRRRR,
EEEEEITADIÁCHU, RSSSSSSSSSS.
Não tinha quem aguentasse sem rir com ele, ou dele. As vezes nós o provocávamos logo no BOM DIAAA SABONETE, e então tínhamos cinco minutos das
gargalhada incontidas dele.
Eu e o meu irmão Wilson o levamos uma vez para a nossa LARANJEIRAS
Querida e ele como de costume fez sucesso. Chegamos em nossa Casa no final da
tarde e no início da noite, o nosso terreiro já estava lotado para ver o
artista.
Uma comadre de Papai e de Mamãe, daquelas metidas a falantes, como dizia o meu Amigo ZEFULÔ, se
destacou me interrogando: quer dizer Djaimeee,
quí ÊXEE ÉER U FAMÔUZU SABÃOO ONÊTEEE! O
riso foi geral e o próprio SABONETE
entoou a sua espetacular gargalhada, tendo aquela noite entrado para o Folclore
do nosso POVOADO e redondezas.
Voltando a Buriti o SABONETE continuou a ser o nosso prestimoso amigo
nos mandados, recebendo a sua recompensa pelos bons serviços prestados e nos
brindando com as suas gargalhadas gigantescas que marcaram a sua VIDA e a sua
História. Viveu bem e aparentemente saudável e sem alterar o seu estilo que agradava
a quantos tiveram a felicidade de conviver com ele. Não tive a informação da
sua morte e a última vez que tive contato com ele foi em dezembro de 1964.
Meus conterrâneos e amigos MARIA JOSÉ e SABOBETE FEBO, VOCÊS fazem
parte importante da minha INFÂNCIA, do
início da minha Adolescência e da História da nossa Terra. Rendo-lhes
ORGULHOSO a minha sincera Homenagem com o Título SIMBÓLICO de OS ESPECIAIS
FANTÁSTICOS DA CIDADE DE BURITI.
SOBRE O AUTOR
É buritiense, ardoroso amante da sua terra, deu seus primeiros passos no velho Grupo Escolar Antônia Faria, cursou o Ginásio Industrial na Escola Técnica Federal do Maranhão e Científico no Liceu piauiense e no Liceu maranhense, bacharelou-se em Direito pela Faculdade de Direito/UFMA, é advogado inscrito na OAB/MA, ativo, Pós-graduado em Direito Civil, Direito Penal e Curso de Formação de Magistrado pela Escola de Magistrados do Maranhão, Delegado de Polícia Civil, Classe Especial, aposentado, exerceu todos os cargos de comando da Secretaria de Segurança Pública do Maranhão, incluindo o de Secretário. Detesta injustiça de qualquer natureza, principalmente contra os pobres e oprimidos, com trabalho realizado em favor destes, inclusive na Comarca de Buriti.