As
aulas da minha primeira Escola Pública, o Grupo Escolar Antonio Faria
encerravam-se exatamente na sexta-feira da Semana Caçadeira, como se chamava a
semana que antecedia a Semana Santa - era nela que as famílias buscavam o
abastecimento para OS DIAS GRANDES e realizavam as tarefas mais pesadas, pois a
partir de terça-feira de trevas, não se trabalhava - no entanto a recomendação
das nossas Professoras era no sentido de que os estudantes que tinham
residências nos povoados só se deslocassem para suas casas, depois de
Assistirem a Missa de Ramos e os que já tivessem idade e estivessem preparados,
Comungassem.
Todas
as professoras residiam na zona urbana, portanto todas elas também estariam
presentes à Celebração e vigilantes sobre todos nós. No sábado que antecedia a
Missa de Ramos, o meu Pai vinha dormir em Buriti, trazendo os animais para nos
transportar, eu, o meu irmão Wilson e a minha irmã Erinda, a Caçula. Encerrada
a Missa, descíamos às pressas a escadaria da Igreja de SANT'ANA e montávamos,
eu e Wilson, o Cavalo DOIS DE OURO, Papai e Erinda o Cavalo MIMOSO, esses dois
Cavalos eram reconhecidos como os melhores, tinham trotes macios e esquipavam, uma
marcha apressada, todavia também macia. A maior dificuldade era a subida da
Ladeira do Tubi, muito íngreme, cheia de barrocas e de pedras, mas ao
atingirmos a Chapada e passarmos na frente da pensão da Raimunda Quirino, a
viagem era uma Beleza, um Voo!
Duas
horas depois estávamos na nossa casa em nossa Amada Laranjeiras e depois da
merenda já sortida com bolos de puba, sem açúcar e com açúcar, íamos para o
nosso campinho de futebol jogarmos com os nossos primos e amigos, usando uma
bola de bexiga de porco ou de bode coberta de leite extraído de Mangabeira da
nossa Chapada rica de várias espécies de árvores.
À
tarde, depois do descanso do almoço, iríamos ajudar Mamãe a cobrir todas as
imagens e quadros de Santos e de Santas, em sinal de respeito, de sentimento e
de gratidão pela Morte de Jesus Cristo que morreu para nos salvar dos nossos
pecados, segundo a nossa fé Cristã. Somente Domingo da Páscoa, aquelas imagens
e quadros voltavam a ser descobertas. Era a vitória de Cristo sobre a Morte, era
a Vida através da Sua Ressurreição que garante a todos nós a VIDA ETERNA, desde
que Creiamos neste Mistério, segundo a nossa Religião.
Tudo
era alegria e muita Fé e fomos felizes sempre. Um boi ou um porco grande e
gordo e um capão era os pratos do Domingo da Ressurreição, era Festa e Regozijo
pela subida do Divino Mestre aos Céus onde está à direita de Deus Pai a
julgar-nos, os Vivos e os Mortos. Voltávamos revigorados para a sala de aula
até as férias de Julho, quando desfrutaríamos de muito mais coisas, incluindo
as pescarias e banhos na maravilhosa corrente de água do nosso Rio Preto que
banha os povoados Laranjeiras, Espingarda, Engenho Velho, Areia dos Brancos,
Rio Preto e segue o seu curso majestoso
pelos municípios de São Benedito do Rio Preto, Urbano Santos, Presidente
Juscelino e Cachoeira Grande onde se junta com o Rio Munim, passam pelos
municípios de Morro e Axixá e
desembarcam no Atlântico na cidade de Icatu.
Fui Feliz quando Criança na minha
Buriti querida e continuo muito Feliz ainda hoje depois de um razoável
Caminhar onde venci muitas duras lutas,
de perder algumas, no entanto considero-me um vencedor e agradecido ao Senhor
nosso Deus que tudo Sabe e que tudo domina, por ter me permitido retornar ao
meu TORRÃO SAGRADO, continuar junto da minha Gente Linda, tentando contribuir
com elas, de conformidade com os meus diminutos conhecimentos, no entanto de
Mente, de Alma e de Coração em Festa diariamente!