O policial
militar aposentado Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio
Bolsonaro e amigo do presidente Jair Bolsonaro, foi preso na manhã desta
quinta-feira 18/6 em Atibaia, no interior de São Paulo. O mandado de prisão foi
expedido pela Justiça do Rio de Janeiro — ele não era considerado foragido.
Queiroz
estava em um imóvel do advogado Frederick Wassef, responsável pelas defesas de
Flávio e do presidente Bolsonaro. Wassef é figura constante no Palácio da
Alvorada, residência oficial da Presidência, e em eventos no Palácio do
Planalto.
A Operação
Anjo, batizada com esse nome por causa do apelido de Wassef entre os
investigados, foi coordenada pelo Ministério Público do Rio de Janeiro, que
indicou o paradeiro de Queiroz aos policiais de São Paulo. O ex-assessor de
Flávio foi transferido para o Rio de Janeiro ainda na manhã de quinta-feira.
Queiroz é
investigado por participação em suposto esquema de
"rachadinha" na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro,
no gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro. "Rachadinha"
é quando funcionários são coagidos a devolver parte de seus salários. O filho
de Bolsonaro foi deputado estadual de fevereiro de 2003 a janeiro de 2019.
Ainda não
houve denúncia, e a suspeita é de interferência de Queiroz nas investigações da
Promotoria, por isso a prisão preventiva. A mulher dele, Márcia Aguiar, que foi
assessora de Flávio na Assembleia, também teve a prisão decretada —ela não foi
encontrada em seu endereço e é considerada foragida.
Tanto
Wassef como a família Bolsonaro afirmavam que não tinham contato com Queiroz
desde que o suposto esquema de "rachadinha" no gabinete do então
deputado Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio veio à tona, no
final de 2018.
Flávio é
investigado desde janeiro de 2018 sob a suspeita de recolher parte do salário
de seus subordinados na Assembleia do Rio de 2007 a 2018. Os crimes em apuração
são peculato, lavagem de dinheiro, ocultação de patrimônio e organização
criminosa.
Parte das
provas que embasaram o pedido de prisão deferido do juiz Flávio Itabaiana, da
27ª Vara Criminal, foram obtidas por mensagens encontradas nos celulares
apreendidos junto a familiares de Queiroz em dezembro, quando houve busca e
apreensão.
Nelas, os
promotores identificaram a atuação do PM aposentado como um coordenador de atos
para dificultar as investigações.
Um dos alvos
da investigação é Matheus Azeredo, funcionário de baixo escalão da Assembleia
que trabalha no Departamento de Legislação de Pessoal. O setor tem entre suas
atribuições atestar o controle de ponto de funcionários da Casa.
Segundo a Folha apurou,
Azeredo é um dos personagens centrais na manipulação de provas sobre possíveis
funcionários fantasmas do antigo gabinete de Flávio na Assembleia. De acordo
com a investigação, a remuneração desses assessores, em quase sua totalidade,
também alimentava a "rachadinha".
Uma das
suspeitas de ser funcionária fantasma é Márcia Aguiar, mulher de Queiroz. Ela
esteve lotada no gabinete de Flávio por dez anos, nunca teve crachá da
Assembleia e se identificou como cabeleireira num processo de violência
doméstica contra o marido.
Outra
suspeita de ser funcionária fantasma da Assembleia é Luiza Souza Paes, que
também teve aplicada contra ela as mesmas medidas impostas a Azeredo. Ela
trabalhou por um ano no gabinete de Flávio, tendo permanecido na Alerj por mais
cinco. Ao longo de todo o período, transferiu 80% dos salários para Queiroz, de
acordo com os promotores.
Além do
volume movimentado, de R$ 1,2 milhão em um ano, chamou a atenção a forma com
que as operações se davam: depósitos e saques em dinheiro vivo em datas
próximas do pagamento de servidores da Assembleia.
Queiroz
afirmou que recebia parte dos valores dos salários dos colegas de gabinete. Ele
diz que usava esse dinheiro para remunerar assessores informais de Flávio, sem
conhecimento do então deputado estadual. A sua defesa, contudo, nunca apontou
os beneficiários finais dos valores.
Jair
Bolsonaro e Queiroz se conhecem desde 1984. Queiroz foi recruta do agora
presidente na Brigada de Infantaria Paraquedista, do Exército. Depois,
Bolsonaro seguiu a carreira política, e Queiroz entrou para a Polícia Militar
do Rio de Janeiro, de onde já se aposentou.
Queiroz,
que foi nomeado em 2007 e deixou o gabinete de Flávio no dia 15 de outubro de
2018, é amigo de longa data do atual
presidente. Entre as movimentações milionárias que chamaram a
atenção na conta de Queiroz está um cheque de R$
24 mil repassado à primeira-dama, Michelle Bolsonaro.
Segundo o
presidente, esse montante
chegava a R$ 40 mil e o dinheiro se destinava a ele. Essa
dívida não foi declarada no Imposto de Renda. Bolsonaro
afirmou ainda que os recursos foram para a conta de Michelle
porque ele não tem "tempo de sair".
QUESTÕES AINDA SEM RESPOSTA NO CASO QUEIROZ
Quem
eram os assessores informais que Queiroz afirma ter remunerado com o salário de
outros funcionários do gabinete de Flávio?
Por
que o único assessor que prestou depoimento ao Ministério Público do Rio de
Janeiro não confirmou a versão de Queiroz?
Como
Flávio desconhecia as atividades de um dos seus principais assessores por dez
anos?
Por
qual motivo Jair Bolsonaro emprestou dinheiro a alguém que costumava movimentar
centenas de milhares de reais?
De
que forma foi feito esse empréstimo pelo presidente e onde está o comprovante
da transação?
Onde
estão os comprovantes da venda e compra de carros alegadas por Queiroz?
Por
que há divergência entre as datas do sinal descrita na escritura de permuta de
imóveis com o atleta Fábio Guerra e as de depósito em espécie fracionado na
conta de Flávio?