Em função do corte, o Brasil também
passou a registrar juro real (descontada a inflação) negativo. Cálculos
do site MoneYou e da Infinity Asset Management indicam que, com a Selic a
2,25%, o juro real brasileiro passou a ser de -0,78% ao ano. O País possui
agora o 14º juro real mais baixo do mundo, considerando as 40 economias mais
relevantes.
O corte desta quarta da Selic era
esperado pela maioria dos economistas do mercado financeiro. Isso porque, com a
pandemia do novo coronavírus, a atividade econômica despencou no Brasil, assim
como a inflação. A avaliação era de que o BC seria levado a reduzir novamente a
Selic para estimular a economia.
De um total de 54 instituições consultadas
pelo Projeções Broadcast, 52 esperavam por um corte de 0,75 ponto da
Selic, para 2,25% ao ano. Duas casas aguardavam pela redução da taxa básica em
0,50 ponto, para 2,50% ao ano.
A
Selic é o principal instrumento do Banco Central para manter sob controle a
inflação oficial, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo
(IPCA). Nos 12 meses terminados em março, o indicador fechou em 3,3%, o menor
resultado acumulado em 12 meses desde outubro do ano passado.
A
inflação, que tinha subido no fim do ano passado por causa da alta da carne e
do dólar, agora deve cair mais que o previsto por causa das interrupções da
produção e do consumo provocadas pela pandemia da covid-19.
Para 2020, o Conselho Monetário Nacional (CMN) estabeleceu
meta de inflação de 4%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual. O
IPCA, portanto, não poderá superar 5,5% neste ano nem ficar abaixo de 2,5%. A
meta para 2021 foi fixada em 3,75%, também com intervalo de tolerância de 1,5
ponto percentual. Já a meta de 2022 é de
3,50%, com margem de 1,5 ponto (2,00 a 5,00%).
No
Relatório de Inflação divulgado no fim de março pelo Banco Central, a
autoridade monetária estimava que o IPCA fecharia o ano em 2,6%. A projeção, no
entanto, ficou defasada diante da pandemia de covid-19. De acordo com o boletim
Focus, pesquisa semanal com instituições financeiras divulgadas pelo BC, a
inflação oficial deverá fechar o ano em 1,97%, mas as estimativas deverão
continuar a cair nos próximos levantamentos.
CRÉDITO MAIS BARATO
A
redução da taxa Selic estimula a economia porque juros menores barateiam o
crédito e incentivam a produção e o consumo em um cenário de baixa atividade
econômica. No último Relatório de Inflação, o BC projetava crescimento zero
para a economia neste ano. No entanto, a previsão tinha sido feita antes do agravamento
da crise provocada pelo coronavírus.
A taxa básica de juros é usada nas negociações de títulos públicos no Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic) e serve de referência para as demais taxas de juros da economia. Ao reajustá-la para cima, o Banco Central segura o excesso de demanda que pressiona os preços, porque juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança. Ao reduzir os juros básicos, o Copom barateia o crédito e incentiva a produção e o consumo, mas enfraquece o controle da inflação. Para cortar a Selic, a autoridade monetária precisa estar segura de que os preços estão sob controle e não correm risco de subir.
DO ESTADÃO e AGÊNCIA BRASIL