· Por Benedito Ferreira Marques
LEITORES E LEITURAS
Como é prazeroso visitar à terra
berço!
No final do mês de
novembro/2019, estive em visita ao meu município natal (Buriti-Maranhão), onde
participei de dois eventos marcantes, entre outras atividades. O município
completaria 81 anos de emancipação política no dia 6.12.2019. Era mais do que
oportuno que se criasse a Academia
Buritiense de Artes, Letras e Ciências – ABALC, o que aconteceu no dia 30
de novembro. Aprovamos o estatuto, elegemos a primeira Diretoria, sendo
Presidente o abnegado conterrâneo Aliandro Borges, responsável pelo blog Correio Buritiense, no qual me foi
franqueada esta coluna. Na mesma ocasião, fui honrado com a indicação para
ocupar a cadeira nº6, que tem como patrono o saudoso irmão Plínio Ferreira Marques. Além de mim, também ocuparão cadeiras os
meus irmãos Raimundo Ferreira Marques
e Horocídio Marques de Sousa Filho (mais
conhecido como “Professor Cidinho”). Portanto, três imortais da minha família
na auspiciosa Academia. No mesmo dia, a Associação
do Amigos de Buriti – AMIB, em noite festiva, reinaugurou a sua biblioteca,
agora com área maior do que existia. Era natural que os filhos da terra –
notadamente os escritores espalhados Brasil afora -, contribuíssem com doações
de livros para ocuparem as novas prateleiras. Foi o que se registrou naquela
memorável noite. Entre outros doadores, a “Família Ferreira Marques”, que conta
com seis escritores, entre vivos e já falecidos, doou nada menos do que 1.014
títulos. Intermediando o ato de liberalidade da família, fiz uso da palavra, na
qual realcei a importância da leitura, afirmando que livros não transmitem
apenas conhecimentos, mas despertam talentos literários. Quem lê aprende e
cria. Citei, como exemplo, o meu falecido pai Horocídio Marques de Sousa que, sem jamais ter frequentado uma sala
de aula, aprendeu a ler e escrever por conta própria. E, aos 80 anos de idade,
escreveu a sua própria trajetória de vida, utilizando-se de uma máquina
datilográfica que já não se usa em tempos de computador. A aludida máquina, que
eu guardava com zelo, como peça de relíquia, foi doada à AMIB, e lá se encontra
para a curiosidade dos que frequentarem a nova biblioteca. Servirá de exemplo e
estímulo.
Sustentei, com ênfase oportuna,
que não concebia um escritor sem ter sido leitor. A leitura não apenas
oportuniza a captação de informações necessárias à cultura do leitor, mas
também se presta para moldar o estilo do escritor, que se revela nas produções
literárias, artísticas e científicas, justamente as áreas que a ABALC se propõe
a explorar, através dos seus membros fundadores e futuros ocupantes das
cadeiras disponibilizadas.
Destarte, a criação da academia
buritiense e a reinauguração da biblioteca da AMIB constituíram fatos marcantes
na vida da cidade de Buriti (MA), ao ensejo da celebração dos seus 81 anos de
emancipação política. Esses fatos sinalizam que a formação cultural de quantos
ali nasceram e colheram as primeiras letras frutificou em abundância
percebível, ao longo de oito décadas.
O desafio que se apresenta, de
agora em diante, é formar grupos de leitores, que revelarão suas preferências
ente prosa e poesia, ciência e tecnologia, artes e culturas em geral. A biblioteca da AMIB tem, agora mais do que
antes, um rico acervo de obras de centenas de talentosos autores brasileiros.
As obras disponibilizadas nas prateleiras ocupadas não podem e não devem servir
de ornamentação inútil. Devem, ao contrário, criar motivações para novos
leitores e resgatar antigos, que abandonaram hábitos de leitura, afetados pelo
desestímulo, à sua vez, alimentado pela escassez de obras na biblioteca agora
revigorada.
Nesse mister responsável e
necessário de formação de grupos de leitores, os professores têm um papel
relevante, incentivando os seus alunos nos mais diferentes níveis de ensino
naquela cidade. Não é tarefa difícil; basta indicar-lhes obras e títulos compatíveis
com a escolaridade. Aguçar aptidões e provocar talentos escondidos é o caminho
a seguir. O processo ensino-aprendizagem não se resume às aulas e avaliações
periódicas. É preciso avançar mais na direção do pensamento crítico que se faz
necessário na formação do discente. O docente deve entender que sua missão tem
caráter transformador e, por efeito, contribui para o processo civilizatório da
humanidade. Se assim não fosse, o município de Buriti dos seus 81 anos não se
revelaria distante dos tempos em que só havia um grupo escolar, albergando um
pequeno número de estudantes sob o magistério de quatro ou cinco professoras
normalistas. Já não é assim nos dias de hoje. Conta=se mais de uma dezena de
unidades de ensino públicas e privadas, e centenas de estudantes que se
distribuem em dezenas de salas de aula. Bem por esse motivo, tomei a iniciativa
de proferir palestras em algumas unidades, incentivando a leitura.
Merece registro especial, nessa minha
visita ligeira ao torrão natal, o desfile cívico que se realizou na noite do
dia 5 deste mês, demonstrando a pujança da juventude buritiense, traduzida nas
apresentações de cada escola, que tiveram como lema central o Hino de Buriti, de autoria da saudosa
Professora Ana Arina. O que se viu foi um espetáculo, o que se sentiu foi
pura emoção, do começo ao fim. A esperança de um futuro promissor para o
município foi espelhada em cada pelotão, em cada passo da marcha. Não se trata
de uma esperança pálida; cuida-se de um vigoroso alento para quem lê e escreve,
para quem ensina e estuda, para quem ama o solo berço
Portanto, a bandeira que se desfralda
no topo do mastro, doravante, é a promoção de eventos culturais que fomentem a
formação de grupos de leitores e se estimule o surgimento
de novos talentos, apoiados em habituais leituras.
SOBRE O AUTOR
BENEDITO FERREIRA MARQUES nasceu no dia 11 de novembro de 1939, no povoado Barro Branco, no município de Buriti/MA. Começou seus estudos em escola pública e, com dedicação, foi galgando os degraus que o levariam à universidade. Possui graduação em Direito pela Universidade Federal do Maranhão (1964), especialista em Direito Civil, Direito Agrário e Direito Comercial; mestre em Direito Agrário pela Universidade Federal de Goiás (1988); e doutor em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco (2004). Tem experiência na área de Direito, com ênfase em Direito Comercial, atuando principalmente nos seguintes temas: direito agrário, reforma agrária, função social, contratos agrários e princípios constitucionais. NA Universidade Federal de Goiás, foi Vice-reitor, Coordenador do Curso de Mestrado em Direito Agrário e Diretor da Faculdade de Direito. Na Carreira de magistério, foi professor de Português no Ensino Médio; no Ensino Superior foi professor de Direito Civil, Direito Agrário e Direito Comercial, sendo que, de 1976 a 1984, foi professor de Direito Civil na PUC de Goiás. Acompanhou pesquisas, participou de inúmeras bancas examinadoras de mestrado, autor de muitos artigos, textos em jornais, trabalhos publicados em anais de congressos, além de já ter publicado 12 livros, entre eles “A Guerra da Balaiada, à luz do direito”, “Marcas do Passado”, “Direito Agrário para Concursos”; e “Cambica de Buriti”; entre outros
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