Olho
O recém-nascido chora ao entrar no palco desse
teatro-vida
E inquieta-se ao abrir das pálpebras-cortinas:
E parece ser esse não entender que dá na vista
Que manterá até a morte esse brilho teatral na
retina;
Entre tantas imagens caóticas
Que têm com o erro relação de insistência,
É motivo e alvo da ilusão de ótica,
O menino bobo que tanto crê na aparência;
E quando ele esbarra forte no de alguém
desconhecido
E a arte se faz sem precisar de artista.
Desses momentos em que a própria poesia se ilude:
"Foi amor à primeira vista";
A humanidade dá importância máxima pra visão
E essa escuridão vai de norte a sul
- Talvez não seja à toa que o centro do ânus
Seja chamado de "olho do cu"
Ponto em que todo maconheiro se assemelha
- Tela de pintura da erva que só usa tinta
vermelha;
E coroa de rei em terra de cego,
Solidão visual ganhando título nobre.
E quem é que tem tanto ego
Pra achar-se da nobreza sob esse manto de
ignorância que nos cobre?
Há que admitir-se a sensação de estarmos sempre sem
norte.
Fecha-se o olho do defunto como esse
movimento fosse a sua sorte
Ninguém pode ter errado tanto que
mereça continuar
Vendo isso tudo mesmo depois da
morte;
Objeto de estudo da semiótica da alma
- Ser a janela pela qual ela se
mostra
É nele que o estudioso observa toda
palavra que a boca não fala,
Que até no plano espiritual é de
expressão que a gente gosta;
E porque é preciso ter por onde
transbordar
O que não cabe nesse
coração-criatura,
Ele é válvula de escape
De tudo aquilo que o peito não
segura.
SOBRE O AUTOR:
Matheus Cardoso nasceu em
05 de fevereiro de 1995, na beira do rio Parnaíba. Maranhense de um lado,
piauiense de outro. Segundo a astrologia, aquário. Segundo seu querer, rio.
Estudou Letras - Português na Universidade Estadual do Piauí. Corre atrás da
paciência carregando a ansiedade nas costas. Professor-Poeta em construção,
resistência, movimento e alegria. Ativista cultural que garante que vai mudar o
mundo - ou, pelo menos, dar nele uma sacudida boa.