Abordagem crítica ao corte de verbas nas
Universidades Federais.
FOI-SE A FOICE, MAS FICOU O
CUTELO
Houve
um tempo em que se usavam machado, cavador, facão, enxada, foice, cutelo e
outras ferramentas, como instrumentos indispensáveis para fazer roças. Cortavam-se árvores já crescidas, a golpes de
machado, e as que estavam em formação, eram podadas a foices afiadas. Depois,
encoivarado e queimado o amontoado de vidas mortas, fazia-se o plantio na terra
escura, numa paisagem desoladora, com a substituição da mata verde pelo chão
preto. Tudo era natural, e a paisagem se completava com as chuvas alvissareiras. Ao longe, ouvia-se o chocalho do animal com
peia nos pés para não fugir. Era um cenário gostoso e animador; paisagem do
interior.
Entre
tais instrumentos, merecem especial destaque para mim, particularmente, a foice
e o cutelo. Ambos em formato de curva, facilitavam o
abate certeiro de matas alcançáveis e movidas pela força do braço humano. O
cutelo prestava-se para a colheita do arroz maduro, mas também era utilizado,
de forma engenhosa, para o corte de folhas da carnaúba frondosa, mas em
altitude elevada, crespa no tronco e lisa no caule. Era presa na ponta de uma
vara cumprida. Nessa palmeira típica do sertão piauiense e maranhense, as
palmas eram tiradas para o recolhimento da cera que constituía a matéria prima
para a fabricação dos discos de então, que armazenavam as melodias de cantores
famosos do século passado. Mas também
eram cortadas as folhas novas, que se chamavam “olho da carnaubeira”. Depois de
algum tempo ao sol, eram milimetricamente transformadas em tiras, como se
fossem embiras. O campesino astuto, nas
horas vagas, entregava-se a essa tarefa meio arte meio técnica. Transformava um
tronco de cedro (madeira mole) em molde para a confecção do chapéu de palha
conhecido como “curinga” (de abas curtas). A cocuruta era o molde, sobre a qual
eram trançadas, cuidadosa e pacientemente, as tiras, formando o adereço
campesino, que protegiam as cabeças pensantes do sol ardente. O martelo, também de madeira, era outro
instrumento necessário na moldagem da cocuruta. Esses chapéus eram encomendados
e vendidos, para a complementação da renda. Bem por isso, em trabalho
doutrinário de Direito Agrário, já venho sustentando que essa atividade deve
ser classificada como atividade tipicamente agrária, seja porque a matéria
prima advém do imóvel rural, seja porque aumenta a renda do trabalhador rural.
É uma atividade complementar de extrativismo vegetal, tal como a seringa para a
extração do látex e produção de borracha.
É por
essa razão que estou destacando o cutelo e o martelo. Nada a ver com o símbolo
de um partido político, pelo qual foram eleitos o Governador do nosso Maranhão
e o Prefeito de nossa Buriti. A foice e
o martelo de que falo é a foice e o martelo na confecção do chapéu de palha,
tão útil, até hoje, ao homem do campo. Lamento que sejam usados na zona urbana,
em festas juninas, nas danças de quadrilhas, como indumentária dos matutos de
roupas rotas e de retalhos coloridos. Tem o lado positivo de resgatar tradições
e culturas, sobretudo no Nordeste brasileiro. Mas é preciso fazê-lo com
parcimônia e propósitos salutares, para não disfarçar um viés preconceituoso.
Com o
passar do tempo, a inteligência humana foi modernizando o processo produtivo no
campo. Inventaram máquinas que passaram a substituir aqueles instrumentos. Era
como se fosse uma “inovação tecnológica”.
Mas tudo era suportado, em nome do progresso e da facilitação das
tarefas do roceiro. Eram cortes não doloridos e explicáveis, porque, desse
processo rústico, resultava a produção de alimentos que fartavam as mesas
acanhadas da família sertaneja, de uma safra a outra.
Com esta introdução, aparentemente
despretensiosa, e marcadamente nostálgica, tenho o propósito de chegar aos
cortes das verbas para a pasta ministerial que deveria ser a mais importante de
todas: EDUCAÇÃO.
Todos os
candidatos ao mais alto posto do País, nas eleições presidenciais do ano
passado (2018) pregavam a educação
como pauta prioritária, seguida da saúde e da segurança. Nenhum deles negou
essa promessa. De repente, o Ministro da
Educação (o segundo nomeado em três meses) anuncia um corte de verbas para os
cursos da área de Humanas (Filosofia, Sociologia, Direito, etc.). O motivo
anunciado era o retorno pífio para o mercado de trabalho e, por tabela, para
reduzir o índice de desemprego. Bastaram os primeiros reclamos, daqui e dali, e
o corte foi direcionado para três grandes Universidades (UNB, Bahia e Fluminense).
O pretexto, desta feita, foi a “balbúrdia” que reinava nos campi universitários. Ecoaram mais fortes os gritos de
descontentamento, e a decisão não demorou: o corte será estendido a todas as
Universidades Federais e Institutos, na proporção de 30%, sem critérios
objetivos explicados. Corte linear, brutalmente linear, horizontalizado. Os
resmungos generalizados provocaram um pequeno alento: “ isso não é corte, é contingenciamento, e poderá ser revisto no
segundo semestre, se a Reforma da Previdência for aprovada” (!?).
Pronunciamentos inflamados ecoaram nos anfiteatros do Parlamento, qualificando
a “desculpa” como um deslavado deboche, para não dizerem “chantagem”.
Para
quem exerceu a cátedra universitária por mais de três décadas, uma indagação
inevitável veio à mente: como fica o tripé indissociável da educação superior –
ensino, pesquisa e extensão, providencialmente encartado na
Constituição Federal (art. 207), solenemente jurada?
A essa
compreensível e pertinente pergunta, seguem-se outras tantas: para que melhorar
o ensino médio – realmente necessário -, se as universidades estarão
sucateadas, ali em frente? Para que priorizar o ensino básico - realmente
indispensável -, se o ensino médio já assobia o vazio futuro de cursos superiores?
Como ficarão os projetos de pesquisa já em estado avançado em todas as áreas,
inclusive em parceria com famosas Universidades de outros países (EUA, Europa e
outros países)?
É do
conhecimento geral, por força da mídia sadia, que 95% dos projetos de pesquisa
científica estão nas Universidades Federais.
Eu mesmo alimentava a esperança de readquirir minha visão perdida, em
razão de resultados satisfatórios nas experiências feitas em porcos cegos, num
audacioso e promissor projeto da Universidade Federal de Goiás em parceria com
a Universidade de Harvard (EUA). Minha esperança esvazia-se, tristemente!
O
desencanto da juventude é o desencanto do futuro; é o clamor do porvir
desalentado; é o choro molhado da esperança já emagrecida; é o grito da revolta
irrefreável que se expressará em cadeia, logo mais, Brasil a fora e a dentro; é
o mexer buliçoso do vespeiro contido que se espalhará em ruas e praças de todas
as partes. Será o grito de guerra pacífica da comunidade científica que ecoará
nos céus do Brasil, como se fosse uma orquestra só, sob a batuta inimitável do
maestro ÂNIMO, aplaudido pela massa da sociedade indignada.
Tiraram
do canto escuro da casa roceira, a ferramenta cortante do cutelo do apanho do
arroz maduro e da folha nova da carnaubeira, para atormentarem as cabeças
pensantes, que não se prestam à moldagem da cocuruta dos chapéus protetores dos
agricultores. Não são cabeças não pensantes feitas de madeira nobre, nas mãos
hábeis do artesão cientista. Não. Isso
não é projeto educacional; isso é o absurdo de ouvidos surdos, de olhos cegos e
de mentes esvaziadas, alimentadas por percepções ideológicas que não se
afeiçoam com a modernidade do século XXI. Os costumes não voltam, modificam-se.
As crenças não se impõem, nascem na consciência de cada ser humano. Atacar a
EDUCAÇÃO em primeiro lugar, em nome de um moralismo falso, e com desculpas de
“herança maldita”, sem atacar os outros setores sabidamente extravagantes em
mordomias escandalosas, ao sabor de lagostas e vinhos importados, e parlamentos
famintos e loquacidade vazia, com projetos engavetados nos escaninhos de Comissões
improdutivas, é a evidência maior de que
nada mudou nem vai mudar.
Não sei
se ainda usam o martelo de madeira
para alguma coisa. Também não sei se o cutelo ainda tem utilidade na rotina do
trabalho do campesino, até porque a agricultura familiar - como já acentuei
noutro texto nesta coluna -, está sendo desmontada e se esvazia de forma
vertiginosa, cedendo espaço para a sojicultora extensiva para exportação. Mas o cutelo que me inspira essa narrativa é
outro tipo de cutelo; é o cutelo ministerial
que corta verbas imprescindíveis ao desenvolvimento do Brasil, em todos os
sentidos, em todos os níveis; e em todas as percepções. A sã consciência de
quem se considera minimamente responsável não pode ficar indiferente a uma
questão tão séria e preocupante. O silêncio dos acomodados não tem lugar na
plateia inquieta dos que não se curvam ao desmando efêmero. É preciso agir, é
preciso reagir.
Ao teor
dessas considerações preocupantes, ouso proclamar a minha tristeza, tristeza e
desalento, que aumentam, ainda mais, as minhas fragilidades
manifestas, como a dizer que o meu agora é o futuro que me resta. Mas o futuro dos meus netos se apresenta
nebuloso; desgraçadamente sombrio, a continuarem essas políticas educacionais
improvisadas num vai-e-vem sem fim, com discursos sem harmonia, porque
não havia projeto. Bem que ainda me
sobra a lucidez mental criadora, que me
permite cravar, como registro para a posteridade, o resumo da realidade cruel:
FOI-SE A FOICE, MAS FICOU O CUTELO.
SOBRE O AUTOR
grandes bosta
ResponderExcluiresse prefeito ja anda se escondendo do povo vai na casa dele nao estar vai na prefeitura tambem nao se encontra ja estar fugindo do povo tomara quer essa palhaçada que esses prefeito estao querendo ai nao seja aprovado pelo congresso nacional de prolongar seu mandato ater 2022 que o eleito ja fica perdindo a deus que passe os 4 anos e ainda querem aumentar mais 2 anos com essa cambada de prefitos corruptos eu acho isso uma tremenda sacanagem tomara que nao seja aprovado vao se lascar bando de caralho e esses veriadores estao na hora de irem agando suas dividas por quer nao irao se eleger nem um estao todos sujos mas do que pau de galinheiro vao pro paracatu bando de carniças.
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