Pelo menos dez militares do Exército foram
presos em flagrante pelo envolvimento no fuzilamento do
carro de uma família em Guadalupe, na zona norte do Rio,
nesse domingo 7. O músico Evaldo Rosa dos
Santos, de 46 anos, morreu depois que o carro foi alvejado por
mais de 80 tiros.
O músico levava a família para um chá de bebê no momento
em que foi atingido por três disparos. O sogro de Evaldo também ficou ferido,
mas se recupera bem. Outras três pessoas estavam dentro do carro.
O filho mais velho do músico, Daniel Rosa da Silva, de 29
anos, contou que além dos 80 tiros disparados contra o carro de sua família,
foram encontradas mais de 200 cápsulas no chão.
Segundo a polícia, os militares teriam aberto fogo contra o carro ao
confundi-lo com um veículo de criminosos que atuam na região. "Para
mim, isso é uma execução", afirmou Silva. "Foram 80 tiros no carro,
mais 200 cápsulas de munição pelo chão. Vão botar o Exército na rua para
garantir a segurança? Que segurança foi essa? Acabaram com uma família."
Silva contou que não houve nenhuma abordagem oficial, nem
mesmo um pedido para parar o carro ou prestar esclarecimentos. Os militares
apenas atiraram contra o veículo. O irmão mais novo de Silva, de apenas 7 anos,
estava no carro alvejado mas não ficou ferido. "Imagina uma criança
perguntando o tempo todo pra você: 'onde está meu pai?'"
Em nota, o Comando Militar do Leste (CML) disse
que ouviu o depoimento de 12 militares, dos quais dez foram presos em
flagrante. Ainda segundo o CML, as prisões ocorreram “em virtude do
descumprimento de regras de engajamento”.
A
família do músico Evaldo dos Santos Rosa, de 51 anos, foi nesta segunda-feira
(8), no final da manhã, ao Instituto Médico-Legal (IML), no centro do Rio de
Janeiro, para liberar o corpo. Ele foi morto em uma operação do Exército, em
Guadalupe, na zona oeste da cidade, na qual o carro em que estava foi atingido
por mais de 80 tiros de fuzil.
Em estado de choque, a técnica em enfermagem
Luciana dos Santos Nogueira, viúva de Evaldo, disse que a família passava pelo
local onde houve a operação com frequência e que sentiu-se segura ao observar a
presença do Exército.
"Por que o quartel fez isso? Eu
disse, amor, calma, é o quartel. Ele só tinha levado um tiro, os vizinhos
começaram a socorrer. Eu ia voltar, mas eles continuaram atirando, vieram com arma
em punho. Eu coloquei a mão na cabeça e disse: 'Moço, socorre meu esposo'. Eles
não fizeram nada. Ficaram de deboche. Tem um moreno que ficou de deboche e
rindo."
![]() |
No carro, junto o músico assassinado Evaldo Rosa dos Santos, estavam sua mulher, o filho de sete anos, uma amiga da família e o sogro / Tânia Rego/ Agência Brasil |
EMOÇÃO
Aos prantos, a viúva disse que preferia ter
morrido ao lado do marido, com quem era casada há 27 anos. "Eles me
deixaram e mandaram eu correr. Eu tinha que ter ficado para morrer com ele, eu
e meu filho", disse. "Ele [o marido] era meu melhor amigo. Meu filho
estava no carro, eu dei calmante para ele, ele viu tudo", afirmou a
técnica de enfermagem, que disse ao filho que pai estava hospitalizado.
Luciana Nogueira informou que Evaldo era
músico e trabalhou como vigilante, mas perdeu o emprego há dois anos. Débora
dos Santos Araújo, irmã da técnica, disse que o filho do casal, de 7 anos, ainda
não foi informado da morte do pai.
"A gente ainda não falou que ele
morreu. O menino fica perguntando quando o pai vai sair do hospital. Ele está
na casa do avô, do meu padrasto. Era filho único, tinha muito amor pelo
pai", ressaltou Débora Araújo.
Segundo Débora, houve uma tentativa de
militares de fazer a perícia no local. "Tem um vídeo mostrando que queriam
colocar alguma coisa embaixo do meu cunhado", disse.
"Nós exigimos que fosse a polícia. Isso foi [por volta das] duas horas, a
polícia chegou às seis e pouco. Nós não deixamos eles fazerem porque eles
podiam tentar fraudar."
AÇÃO
O
carro em que estava a família foi atingido por mais de 80 tiros disparados
pelos militares. Evaldo, a mulher, o filho de 7 anos, o sogro e uma amiga da
família estavam indo para um chá de bebê. O músico foi atingido por três tiros
e morreu na hora.
O sogro, Sérgio Gonçalves de Araújo, recebeu
um tiro nas costas e outro no glúteo e está internado em estado estável no
Hospital Albert Schweitzer ao lado de um homem, que estava no local, e tentou
socorrer a família, mas foi atingindo por um tiro no peito.
Segundo Luciana Nogueira, não houve
confronto, e os tiros começaram assim que o carro da família entrou na rua. "Eu
me senti protegida quando vi o quartel. Meu padrasto estava no banco da frente.
O Evaldo já estava caindo no volante, mas falou 'corre com o Davi'. Eu abri a
porta e disse que ajudava a levar o carro. Os vizinhos vieram para ajudar a
socorrer."
Do Estadão& Agência Brasil
0 COMENTÁRIOS:
Postar um comentário
O comentário não representa a opinião do blog; a responsabilidade é do autor da mensagem. Ofensas pessoais, mensagens preconceituosas, ou que incitem o ódio e a violência, ou ainda acusações levianas não serão aceitas. O objetivo do painel de comentários é promover o debate mais livre possível, respeitando o mínimo de bom senso e civilidade. O Redator-Chefe deste CORREIO poderá retirar, sem prévia notificação, comentários postados que não respeitem os critérios impostos neste aviso ou que estejam fora do tema proposto.