José Dirceu, ex-ministro, e Vaccari Neto, ex-tesoureiro do PT.
O Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4)
aumentou, em julgamento concluído nesta terça-feira 26/9 pela manhã, a pena do
ex-ministro José Dirceu, réu na apelação criminal do núcleo Engevix, em 10
anos. Também tiveram as condenações confirmadas o ex-diretor da Petrobras
Renato Duque e o ex-vice-presidente da Engevix Gerson de Mello Almada. O ex-tesoureiro
do Partido dos Trabalhadores João Vaccari Neto foi absolvido por insuficiência
de provas. O julgamento iniciou no dia 13 de setembro e teve pedido
de vista do desembargador federal Victor Luiz dos Santos Laus. Essa é a 18 ª
apelação criminal da Operação Lava Jato julgada pelo tribunal.
O processo incluiu ainda três réus ligados a José
Dirceu, os ex-sócios da JD Consultoria, Luiz Eduardo de Oliveira e Silva, irmão
de Dirceu, e Júlio Cesar Santos, e o ex-assessor Roberto Marques, que tiveram
as penas aumentadas. Dois réus sócios da Engevix, os executivos José Antunes
Sobrinho e Cristiano Kok, que tiveram a absolvição mantida, e o lobista
Fernando Antônio Guimarães Hourneaux de Moura, teve a pena diminuída.
A Engevix foi uma das empreiteiras que teriam
formado um cartel para ajuste prévio de preços, fraudando as licitações da
Petrobras a partir de 2005. Para isso, a empresa teria pago propina a agentes
da Petrobras em contratos com a Unidade de Tratamento de Gás de Cacimbas
(UTGC), a Refinaria Presidente Bernardes (RPBC), a Refinaria Presidente Getúlio
Vargas (Repar) e a Refinaria Landupho lves (RLAM). Conforme a sentença,
proferida em maio do ano passado, parte da propina paga era redirecionada ao
grupo político dirigido por José Dirceu.
Segundo o relator do processo, desembargador
federal João Pedro Gebran Neto, os esquemas criminosos descobertos na Operação
Lava Jato foram escancarados e teriam violado princípios norteadores da
administração pública como a legalidade, a moralidade e a eficiência. Gebran
foi o que estipulou as penas mais altas para os réus, que foram diminuídas em
função dos votos dos outros dois desembargadores membros da 8ª Turma, Leandro
Paulsen, que é revisor, e Victor Luiz dos Santos Laus.
"Embora
nestes casos dificilmente haja provas das vantagens indevidas, adoto a teoria
do exame das provas acima de dúvida razoável", declarou Gebran, completando que as penas severas
não são resultado do rigor dos julgadores, mas da grande quantidade de delitos
cometidos pelos réus.
Paulsen iniciou a leitura de seu voto afirmando que
o bom funcionamento da administração deve se pautar pela legalidade e
impessoalidade, não se colocando interesses particulares acima dos interesses
públicos. "Espera-se das pessoas que
atuam em nome da administração que o façam baseados nesses princípios, evitando
a deterioração e a perversão da coisa pública", observou o
desembargador.
Paulsen, que também é presidente da 8ª Turma, considerou
haver prova suficiente, testemunhal e documental, de que os crimes ocorreram,
mantendo as condenações constantes da sentença e determinando a ampliação das
penas, mas em dimensão intermediária entre as penas fixadas pelo juiz de
primeiro grau e o desembargador relator.
O revisor absolveu Vaccari por falta de provas do
seu envolvimento, especificamente nos fatos julgados na ação sob julgamento,
ressaltando que as informações prestadas pelos colaboradores, no presente caso,
não contam com provas de corroboração e que os depoimentos sequer dizem
respeito aos fatos narrados na denúncia. Paulsen destacou que a absolvição de
Vaccari não afeta a sua prisão preventiva, porquanto está determinada em outra
das nove ações penais que tramitam contra ele. Quanto à Cristiano Kok, o
magistrado manteve a absolvição, entendendo não haver prova do dolo.
O desembargador Victor Luiz dos Santos Laus
explicou que pediu vista devido à alegação da defesa de que teria havido
deslealdade processual ou atentado ao processo pelo curto prazo de acesso a
algumas provas telemáticas disponibilizadas no curso das alegações finais, sem
tempo hábil para análise.
Laus concluiu que a denúncia foi devidamente
instruída e o contraditório foi oferecido desde 2015, com disponibilidade dos documentos
que de fato fundamentaram a acusação do MPF, não havendo perda para a defesa. "O relatório telemático estava
disponível na plataforma virtual para a defesa, não se sustentando a alegação
de que o levantamento do sigilo dos autos nas alegações finais teria trazido
novas provas", avaliou o desembargador.
Os réus tiveram as penas aumentadas porque a turma
aplicou o concurso material nos crimes de corrupção em vez de continuidade
delitiva. No concurso material, os crimes de mesma natureza deixam de ser
considerados como um só e passam a ser somados.
ABAIXO
VEJA COMO FICARAM AS CONDENAÇÕES:
José Dirceu de Oliveira e Silva: corrupção passiva,
pertinência a organização criminosa e lavagem de dinheiro. A pena passou de 20
anos e 10 meses para 30 anos, 9 meses e 10 dias;
João Vaccari Neto: denunciado por corrupção
passiva. A pena era de 9 anos, mas o ex-tesoureiro foi absolvido, por maioria,
pela 8ª Turma, vencido Gebran por insuficiência de provas;
Renato de Souza Duque: corrupção passiva. A pena
foi aumentada de 10 anos para 21 anos e 4 meses;
Gerson de Mello Almada: corrupção ativa e lavagem de dinheiro. A pena passou de 15 anos e 6 meses para 29 anos e 8 meses de detenção;
Gerson de Mello Almada: corrupção ativa e lavagem de dinheiro. A pena passou de 15 anos e 6 meses para 29 anos e 8 meses de detenção;
Fernando Antônio Guimarães Hourneaux de Moura:
corrupção passiva e lavagem de dinheiro. A pena passou de 16 anos e 2 meses
para 12 anos e 6 meses de reclusão;
Julio Cesar dos Santos: lavagem de dinheiro. A pena
passou de 8 anos para 10 anos, 8 meses e 24 dias de detenção;
Roberto Marques: pertinência em organização
criminosa. A pena passou de 3 anos e 6 meses para 4 anos e 1 mês;
Luiz Eduardo de Oliveira e Silva: lavagem de
dinheiro. A pena passou de 8 anos e 9 meses para 10 anos, 6 meses e 23 dias de
detenção;
Cristiano Kok: absolvido em primeira instância,
teve a absolvição confirmada;
José Antunes Sobrinho: o MPF apelou pedindo a
condenação após absolvição em primeira instância. A turma manteve a absolvição.
EXECUÇÃO
DA PENA
A execução da pena poderá ser iniciada pelo juízo
da 13ª Vara Federal de Curitiba assim que passados os prazos para os recursos
de embargos de declaração (2 dias) e de embargos infringentes (cabem no caso de
julgamentos sem unanimidade, com prazo de 10 dias). Caso os recursos sejam
impetrados pelas defesas, a execução só se dará após o julgamento desses
recursos pelo tribunal.
(Do TRF-4)