*Por Paulo Nogueira
Gilmar Mendes assemelha-se mais a um político travestido de juiz.
Gilmar está
em polvorosa.
Processou a
atriz Mônica Iozzi e aparentemente está conseguindo retirar de um livro a
menção a uma conversa que teria tido com Bonner em torno de jornalismo.
Mônica
lembrou o caso Abdemalssih, o médico estuprador a quem Gilmar concedeu habeas
corpus. Abdemalssih aproveitou o HC para fugir.
E a conversa
com Bonner foi testemunhada por convidados do JN para uma reunião de pauta.
Logo, os
problemas maiores nos dois casos são os fatos. O maior pecado depois do pecado
é a publicação do pecado, como escreveu Machado de Assis.
Não vou
tratar sequer da disparidade de forças. Como juiz do STF, Gilmar tem ampla
vantagem em qualquer embate na justiça.
Vou falar de
Gilmar, em si.
Ele é, há
muito tempo, um embaraço nacional.
Passei seis
anos na Inglaterra, com viagens frequentes pela Europa, e garanto: você não
encontra lá nada parecido com Gilmar.
Juízes são
discretos, escrevem pelos autos e não se pronunciam politicamente nos países
desenvolvidos socialmente.
Gilmar há
muito se converteu, sob a complacência das frágeis instituições brasileiras,
incluída a mídia que deveria fiscalizá-lo, num político togado.
Ele parece
ter uma vocação muito mais política do que jurídica. A ferocidade com que bate
sistematicamente no PT é um caso para o futuro estudar.
Por que ele
não faz, então, política?
Porque
precisaria de votos. Para chegar ao STF, bastou o voto de FHC. Mas para ser
deputado federal, ou coisa parecida, ele teria que dar dezenas de milhares de
votos.
Sua
tagarelice política incontida rebaixa o Brasil. Nos coloca na condição de
República de Bananas.
Só
recentemente alguns colunistas da mídia começaram a mostrar desagrado com sua
falação inextanquível [inestancável]. Jânio de Freitas e Bernardo Melo Franco,
ambos da Folha, têm criticado com alguma frequência Gilmar.
É alguma
coisa, mas é pouco ainda. Nunca um só editorial reprovou Gilmar por uma conduta
que em países avançados é simplesmente intolerável.
Juízes
discretos são fundamentais numa democracia. Se você sabe antecipadamente como
eles vão votar, o que é o caso de Gilmar em questões políticas, é uma tragédia
nacional.
Por mais
processos que espalhe, Gilmar não vai conseguir escapar de uma verdade doída:
ele é um problema sério brasileiro.
O inferno não
são os outros, para lembrar Sartre. É ele mesmo.
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