Por
Kiko Nogueira, do DCM
Se
a estatura moral de alguém pode ser medida na adversidade, é fácil identificar
as diferenças entre Cunha e Dilma.
A
definição clássica de Hemingway para coragem é “graça sob pressão”. Dilma teve seu mandato afanado por um bandido
que liderou uma gangue. Não foi vista ganindo ou dando show de
autopiedade.
Esse
mesmo sujeito apareceu na tarde de quinta feira, dia 7, para ler sua renúncia.
Renegando tudo o que bravateou nas últimas semanas, pediu arrego.
No
final de um discurso vagabundo, chorou. Não cabe dizer se foram lágrimas
falsas. Cunha é um mitômano, o tipo que acredita em suas próprias mentiras — a
versão degenerada do poeta de Fernando Pessoa, o fingidor que finge tão
completamente que chega a fingir que é dor a dor que deveras sente.
A revista Piauí compilou
as vezes em que o ex-presidente da Câmara mentiu no Twitter sobre se iria
ou não renunciar. Ele apagou tudo.
Chorou,
ou fingiu que o fazia, porque tem um caráter fraco, além de mau. É um
desequilibrado que aparenta a frieza de um pistoleiro de aluguel ou vice versa.
As
lágrimas rolaram quando falava da família. É uma tática para fazer crer que ele
se importa com o destino dos seus. Ora, se fosse verdade, não tinha envolvido a
mulher e a filha em suas bandalheiras.
Essa
face humana do psicopata vinha sendo cevada na imprensa nas últimas semanas. No
último dia 3, seus aliados emplacaram matéria no Estadão dizendo que ele estava
“abatido, desanimado, com a perspectiva
de perder o mandato e acabar na cadeia”.
Segue:
“Numa das ocasiões, o peemedebista ficou
nervoso, chegou a chorar e foi visto numa ligação telefônica pedindo para que a
mulher se acalmasse.”
Desde
pelo menos julho do ano passado ele abriu CPIs, jurou vingança, fez o diabo.
Estava acostumado a anos e anos de impunidade e enlouquece com a perspectiva de
ir para a cadeia.
Dilma
esteve na cadeia e foi torturada. Isso, obviamente, não explica totalmente a
diferença de atitude, mas ajuda.
Se
ela parecia abalada e confusa antes do impeachment, demonstrou desde então
estoicismo e obstinação. Simplificando, é a tranquilidade da honestidade contra
o esperneio da canalhice.
Cunha
representa a parte do Brasil que acha que os fins justificam os meios, o Brasil
dos espertos. Na formulação do ignóbil Marco Feliciano, é o “malvado favorito” deles. O choro é o
coroamento da fraude.
Quando
Dilma afirma que é a vítima de uma farsa, ela é chancelada pelos fatos. Quando
Cunha se vitimiza e se declara perseguido, causa ojeriza. Nem seus paus
mandados acreditam nisso.
Ele
ganhou a primeira batalha e agora enfrenta um final de carreira
tragicômico. No médio prazo, sabemos quem vai para o lixo da história —
sem ser chorado por ninguém.
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