* Por Paulo Nogueira do DCM
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Retrato do artista quando jovem: na presidência da Telerj |
Os
mais puros, diante dos fatos acachapantes das últimas semanas, se perguntam:
como alguém como Eduardo Cunha pode fazer uma carreira com tamanhas
delinquências ao longo de tantos anos?
A
resposta é um retrato do Brasil.
Os
americanos, na Guerra Fria, se referiam a ditadores que os apoiavam de uma
maneira abjetamente pragmática.
São
os nossos ditadores.
Eles
matavam, perseguiam, torturavam – e eram mantidos no poder pelos líderes do
“Mundo Livre” porque eram seus ditadores.
E
então.
Na
visão da plutocracia, Eduardo Cunha é um dos nossos corruptos.
Exatamente
como Ricardo Teixeira, para ficar num caso. Teixeira cansou de roubar na CBF.
Mas era amigo da Globo, e portanto da plutocracia, e então teve vida fácil no
Brasil.
Ninguém
o aborrecia com coisas como honestidade.
Eduardo
Cunha se iniciou com PC Farias, o tesoureiro de Collor. Com ele aprenderia a
arte de arrecadar – vital depois para patrocinar campanhas de políticos menos
talentosos naquilo.
Depois,
por indicação de PC Farias antes do fim da era Collor, foi ser presidente da
Telerj.
Naquele
posto a parceria com os plutocratas ganharia músculos.
Cunha
facilitou a vida da NEC, uma empresa de telefonia controlada pela Globo.
Pronto.
Deu o passo essencial para se tornar um intocável.
Ajudando
a Globo: assim se tornou intocável até chegarem os suíços
A
Globo é uma espécie de mantenedora dos nossos corruptos. Se,
como Ricardo Teixeira e Eduardo Cunha, você está protegido por ela, tem licença
para fazer muita coisa.
Você não vai aparecer no noticiário. E protegidos da
Globo costumam ser também protegidos da Justiça.
Conte
quantos amigos da Globo foram apanhados na Lava Jato. Aécio é um típico amigo
da Globo: veja quantas vezes ele foi cobrado pelas
suas conhecidas estripulias.
É
um golpe perfeito.
Ou
quase.
O
problema é quando entram em cena coisas fora do controle da plutocracia
brasileira, e portanto da Globo.
A
polícia suíça, por exemplo.
Não
fossem os suíços, correríamos o risco de ter Eduardo Cunha na presidência.
A
plutocracia adoraria.
Desapareceria
da mídia o noticiário obsessivo sobre corrupção, para começo de conversa, como
ocorreu nos anos de ditadura militar.
E
Eduardo Cunha comandaria uma agenda completamente a favor dos plutocratas.
Financiamento
de campanha, que é a forma consagrada pela qual a plutocracia toma de assalto a
democracia? Sim, sim, sim.
Regulação
da mídia, que é como a sociedade se protege de abusos das grandes corporações
jornalísticas? Não, não, não.
E
assim seguiria o Brasil, o paraíso das iniquidades.
Mas
apareceram os suíços, e a festa, para Eduardo Cunha, terminou em tragédia.
Não,
no entanto, para os plutocratas que sempre dispensaram proteção.
Há
muitos outros Eduardo Cunhas na política brasileira.
Aécio
é um deles.
A
plutocracia sabe que pode contar com Aécio.
Tem
seus defeitos. Gosta muito da vida noturna, e é amigo de pessoas em cujo
helicóptero pode aparecer meia tonelada de pasta de cocaína.
Mas
tudo bem.
Na
ótica dos donos do Brasil, é um dos nossos.
Como
Eduardo Cunha.
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*Sobre o Autor: O jornalista Paulo Nogueira é fundador e
diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.