AS LÁGRIMAS DA LAZARINA, UMA LOUCA HUMANA.
*Por Djalma
Passos
Maria Francisca era o nome de uma mulher negra,
proprietária de Buriti, que desenvolvia uma capacidade de imaginação de
impressionar até mesmo Júlio Verni, autor de Viagem ao Centro da Terra!
Na cidade era conhecida, como LAZARINA. A garotada se
divertia irresponsavel e inocentemente, porque ela, esquizofrênica, se irritava
e chegava ao limite máximo da insana, ao ser chamada de LAZARINA, e todas as
crianças de então, inclusive eu, subíamos nas amendoeiras que cobriam de sombra
a nossa Praça Matriz, para esperá-la passar, todos os dias pelo centro dela,
com destino ao mercado público de Buriti.
Ao percebermos a sua chegada, normalmente calma,
começávamos, em sequência organizada, a guerra perversa, Puul, puul, puul e,
LAZARINA, entendendo a injusta agressão, iniciava sua justa reação, com um
tiroteio verbal de "urubus do
diabo, filhos de uma égua, desgraçados, eu sou dona dessa cidade, seus
miseráveis, vocês vão me pagar”, e seguia seu caminho, daí em diante,
proferindo impropérios de toda ordem!
Algum tempo depois, perguntando a seu Antonio Ferreira,
tabelião do 2° ofício, se ele sabia o nome de Lazarina, ele me contou que seu
nome era Maria Francisca, sem mais detalhes. Descobri, também, que ela tinha
uma doença mental desde jovem e que a sua família teria tentado um tratamento
via curandeiro, o que agravara a doença, evoluindo para a mania de riqueza,
desencadeando o delírio, também, de pertencer à raça branca, mais um motivo
complicador, pra dona Maria Francisca!
Um certo dia, eu descobri, que eu e meus colegas de
infância, estávamos cometendo uma grande maldade e um grave pecado, com aquela
senhora e, que deveríamos repensar nossa atitude em relação a ela. Ninguém
concordou comigo. Acharam que era uma besteira, perdermos a nossa brincadeira.
Fiquei decepcionado, mas pensei em encontrar sozinha a solução mais prática,
para mitigar o sofrimento da dona Maria Francisca!
No dia seguinte, fui esperar por
ela, na calçada do Cine Teatro (hoje abandonado) no horário de costume, pois
era um sábado e eu não teria aula! Sem atraso, dona Maria Francisca, apareceu
cantando baixinho, o hino da padroeira Sant' Ana, a melodia, naquele suave, la,
la, la, la, la, la, la, la, la, la,... Então a interceptei e lhe disse: “bom diaaaa, dona Maria Francisca!”. Ela
olhou-me entre desconfiada e contente e respondeu sorrindo, com um
questionamento, “mininu, quem ti insinou
meu nomi?” Respondi que tinha descoberto que ela era gente boa! “E sô mermu”, disse ela satisfeita!
Eu me considerando um herói,
pedi- lhe que me explicasse, porque ela dizia ser dona de Buriti e ela sem
pensar, foi logo apontando para a casa de seu Osvaldo Faria, dizendo, “ele é meu irmão, eu era branca igual a
ele, mas ele me roubou, me tomou a cidade, com inveja, porque a minha mãe me
deu ela só pra mim. Mandou me pintar com essa cor miserável, pra inganá os
outros e hoje todo mundo me chama de doida, mas eu tenho meu juízo certo e
agora tô passando fome por causa dele”. Dito isso, começou a chorar convulsivamente
e me perguntou, “tu nun acha queu tenho
razão?” Respondi- lhe, “claro que
tem!” Ela aumentou o pranto e conseguiu molhar o meu ombro e repetiu, “tu nun acha queu tenho razão?” “Acho sim,
dona Maria Francisca!” Desta feita, ela me disse: “tu é gente muitu bôa, meu fii!” E partiu, pra sua costumeira
caminhada, mas agora calma e senhora de si!
Entendi, naquele momento, que os loucos, também entendem o que é atenção, o que é respeito e o que é amor e deles necessitam! Entendi ainda, que, apesar de sua insanidade, DONA MARIA FRANCISCA, merecidamente, faz parte da história de nossa Buriti e da minha vida! Suas lágrimas eram puras e me comoveram e me dão saudades! Descanse em paz, inesquecível LAZARINA!
Entendi, naquele momento, que os loucos, também entendem o que é atenção, o que é respeito e o que é amor e deles necessitam! Entendi ainda, que, apesar de sua insanidade, DONA MARIA FRANCISCA, merecidamente, faz parte da história de nossa Buriti e da minha vida! Suas lágrimas eram puras e me comoveram e me dão saudades! Descanse em paz, inesquecível LAZARINA!
*Djalma Passos: buritiense,
ardoroso amante da minha terra, deu meus primeiros passos no velho Grupo
Escolar Antonio Faria, cursei o Ginásio Industrial na antiga Escola Técnica
Federal do Maranhão, estudei o Curso Científico no Liceu Piauiense e o conclui
no Liceu Maranhense, militei na área de educação, orientando nas matérias
português e inglês, cursei a Faculdade de Direito de São Luís/UFMA, pós
graduado no primeiro Curso de Formação de Magistrado do Maranhão, Direito Civil
e Penal, Delegado de Polícia Civil concursado, aposentado na Classe Especial,
exerci todos os cargos de comando da Secretaria de Segurança Pública, inclusive
o de Secretário, advogado legalmente inscrito e em dia, na OAB/MA em atividade,
detesto injustiça de qualquer ordem, principalmente praticada contra pobres e
oprimidos, em favor dos quais atuo, como o fiz no último Júri realizado em
Buriti no último dia 02 de dezembro próximo passado! Adoro minha Buriti e tudo
o que ela ainda tem de bela, principalmente a sua gente!
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Coluna literária
Agradecendo a generosidade do responsável pela Coluna Dominical " Um Olhar Literário de Buriti, concito os talentos literários da nossa Buriti querida, a mostrarem suas obras de criação a todos os nossos irmãos, colaborando assim, com a nossa cultura, com a este espaço tão importante, criado, com o fim precípuo de desenvolver uma fase relevante da educação! Registro, além di meu agradecimento, o meu aplauso ao colunista e ao Correio Buritiense, pelo belo trabalho de criação da Coluna e pelo empenho em mante-la viva!
ResponderExcluirParabens! Sr. Djalma Passos por nos possibilitar conhecer um pouco da historia de nossa cidade, cada dia mais esquecida.
ResponderExcluirBelíssimo texto!! Parabéns!! Agora cá estou com minhas lembranças de infância, maravilhosamente vivida na minha QUERIDA E AMADA TERRA!! Não sou da época de LAZARINA, mas cheguei a ver nessas andanças a D. BENEDITA MOTOR e o "ilustre" alcoólatra MARRONZINHO, figuras igualmente folclóricas de BURITI!! Descansem em paz!!
ResponderExcluirQuem, em Buriti, não lembra da querida ? Aquela que ocupava grande parte do seu tempo em visitas aos nossos entes queridos enterrados no cemitério . Grandes figuras !
ExcluirParabéns ao autor do texto, sem preciosismo, nem qualquer interesse...Mas fica a reflexão , hoje você reflete dessa forma sobre a situação da "senhora" mencionada no texto, isto é muito bom , mas e o que nós temos feito pelo outro?Como o exemplo de conversar, ouvir alguém,, isso é muito importante,Tal situação relatada ,exposta aqui,espalha-se pelo Brasil afora. Como resolver tal situação?Sugiro que a atitude de ouvir, conversar, doar-se esteja todos os dias em nossa vida,perante até mesmo os nossos"inimigos" ,confiando que a esperança de melhoras para nação é possível!
ResponderExcluirbeleza recordação , um lindo corpo meu caro conterraneo!!! quando eu criança lembro que morria de medo de um senhor cujo nome eu nao sei mas era conhecido como gordinho!!!!! eu e meus colegas gritavamos !! GORDINHO URUBU !!! ele corria atras de nós com um chicote ... corriamos em disparada com o coração pra sair da boca kkkkkkk acho que ele ja faleceu que Deus o tenha
ResponderExcluirbeleza recordação , um lindo corpo meu caro conterraneo!!! quando eu criança lembro que morria de medo de um senhor cujo nome eu nao sei mas era conhecido como gordinho!!!!! eu e meus colegas gritavamos !! GORDINHO URUBU !!! ele corria atras de nós com um chicote ... corriamos em disparada com o coração pra sair da boca kkkkkkk acho que ele ja faleceu que Deus o tenha
ResponderExcluirObrigado por compartilhar conosco esses fatos históricos envolvendo ilustres moradores da nossa querida cidade, Djalma Passos .
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