A equipe do
Fantástico, que produzia uma matéria revelando esse esquema, foi ameaçada, atacada
por sete homens ligados à prefeitura de Anapurus que tomaram sua câmara.
Eduardo Faustini e Luiz Cláudio Azevedo investigavam esquema de laranjas que movimenta R$ 30 milhões em Anapurus e Mata Roma, no Maranhão.
O SHOW DA VIDA DE CORRUPÇÃO DE ANAPURUS E MATA ROMA FOI AO AR ONTEM,
DOMINGO 20, EM ABERTURA DO PROGRAMA FANTÁSTICO, NA TV GLOBO
A
denúncia sobre um esquema de laranjas que movimenta R$ 30 milhões, dinheiro
público, em cidades pobres do interior do Maranhão foi o que levou os
jornalistas da TV Globo a serem ameaçados e assaltados. São contratos
municipais nas mãos de empresas suspeitas, muitas delas não têm sede, e nem
capacidade de prestar o serviço. Mais uma vez, quem paga a conta é o cidadão
comum. E o sofrimento começa na mais básica das necessidades.
“Quando eu acordo de manhã, venho para essa ponta
de mato aqui fazer necessidade, xixi. Tudo pra cá”, conta a lavradora Maria
Santana.
A
vizinha dela teve mais sorte, aparentemente. Dona Maria mostra o banheiro
construído pela Prefeitura há menos de dois anos. A pia é de plástico. “Um parafuso aqui, outro aqui. Isso aqui,
qualquer coisinha quebra tudo. Nada presta aqui”, ela diz.
Mata Roma
e Anapurus são cidades pequenas, cada uma com pouco menos de 16 mil habitantes.
Moradores da Zona Rural sofrem com a falta de saneamento básico.
A
lavradora Cristiane Teixeira nunca usou um banheiro. “Tenho 21 anos, nasci aqui e nunca usei. Nunca tomei banho de
banheiro”.
Dorival
Mendes Nascimento, lavrador, mora há 40 anos na região e nunca teve água em um
chuveiro: “Tem que tirar água do meu
poço, e agora chegou esse poço”.
Mas,
para os moradores, o poço ainda não chegou de vez. “Eles apareceram para fazer esse poço, final de maio, agora de 2014. Só
fizeram furar”, diz Cristiane Teixeira dos Santos, lavradora.
Nos dois
municípios, essas obras são feitas com dinheiro público. Empresas negociaram
nas duas cidades contratos que, somados, chegam a R$ 30 milhões.
Em Mata
Roma, a construtora Santa Margarida recebeu, só em 2012, mais de R$ 2,2 milhões
para abastecimento e saneamento. A proprietária é Rejânia Maria Pinheiro dos
Santos. Ela se recusou a falar com o Fantástico.
Em uma
rede social, Rejânia aparece em uma foto abraçando José Ari, irmão de criação
dela. No papel, José Ari é dono de outra construtora, a São Lourenço, que
presta serviço ao mesmo município. Também no papel, a São Lourenço é capaz de
fazer perfuração e construção de poços de água.
Mas veja
o que José Ári responde quando o repórter Eduardo Faustini pergunta pela
empresa.
José
Ári: Que empresa?
Faustini:
A sua empresa, que você presta serviço.
José: Eu?
Faustini: É.
José: Eu não. Não é eu, não.
Faustini:
Você não tem empresa?
José: Não.
Em
seguida, ele dá outra explicação: “Eu saí
há uns três meses”.
Técnicos
da Controladoria-Geral da União fiscalizaram as obras feitas com dinheiro
público no município. Segundo o relatório da CGU, a construtora São Lourenço,
de José Ári, não está apta a executar obras ou serviço de engenharia.
Outro
esquema é no aluguel de veículos para a mesma prefeitura. Segundo a CGU, as
locadoras Matarromense e Abiviagens receberam, em apenas um ano, R$ 537 mil
pelo serviço de transporte escolar.
No
papel, Valdecy Garreto Silva é o dono da Matarromense, uma das maiores
locadoras da região. A empresa também tem contratos em Anapurus.
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Valdecy Admitindo ser Laranja de Locadora |
Faustini:
O senhor é o único dono dessa empresa?
Valdecy: Não, é um irmão meu que... Eu tenho um irmão meu. É só no meu nome,
ela, mas ele que resolve tudo aí.
Faustini:
Quanto o senhor ganha nessa empresa?
Valdecy:
Eu não sei nada.
Josivan,
irmão de Valdecy, foi vereador em Mata Roma e tem mais empresas de locação de
veículos. Na rua que consta como endereço no registro da Matarromense, não existe
empresa nenhuma, e nem casa com a numeração fornecida à junta comercial.
Josivan não foi encontrado pelo Fantástico.
A outra
locadora que atende à Prefeitura de Mata Roma se chama Abiviagens. Segundo a
CGU, os pagamentos à empresa, de R$ 537 mil, não poderiam ter sido feitos
devido a várias irregularidades. Na sede da Abiviagens, encontramos Elânia
Araújo de Almeida. Ela é funcionária da Prefeitura de Mata Roma desde 2006.
Mesmo assim, foi sócia do marido, Abimael Reis, quando a Abiviagens já tinha conseguido
o contrato municipal.
Faustini:
Você é sócia da empresa.
Elânia: Não.
Faustini:
No contrato, você não está?
Elânia: Não, eu saí.
Faustini:
Você passou as suas cotas pra quem?
Elânia: Foi... É outra pessoa. Parece que a filha
dele.
Procurado
pelo Fantástico, Abimael Reis não quis falar.
São
muitos os laranjas nessa história. Mas encontramos ainda mais irregularidades.
Em
Anapurus, onde a população se queixa da falta de saneamento básico, o mestre de
obras que fiscaliza a construção dos banheiros diz que recebe o salário em
dinheiro vivo, diretamente das mãos do secretário de Infraestrutura, Júlio
Neto. “Eu recebo pelo Júlio Neto. É
dinheiro ‘em peça’ mesmo. O patrão passa o dinheiro pra mim, pago meus
trabalhadores. E é assim”, ele conta.
O
secretário de Infraestrutura de Anapurus – MA, Júlio Neto, nega a
irregularidade nos pagamentos: “Ele
recebe da construtora, viu? Agora, eu vou fiscalizar. Eu tenho que fazer a
minha parte como secretário”.
Ainda em
Anapurus, a empresa Premier tem R$ 3 milhões em contratos para construção e
manutenção de estradas e ruas. No papel, o dono é Javé Ferreira da Costa Lima.
Só que ele é operário concursado da empresa de águas do estado.
Faustini: Só um minuto. Eu quero falar sobre a sua
empresa. Por que você não pode falar?
Javé: Não quero falar.
Faustini:
Só um instante.
Javé: Dá licença!
Faustini:
eu preciso falar contigo
Javé: Não tenho nada para falar
Faustini: Eu quero falar sobre a sua empresa que
presta serviço para a Prefeitura de Mata Roma.
Procurada
pelo Fantástico, a prefeita de Mata Roma, Carmen Neto, não foi encontrada nem
retornou recado que a equipe deixou na Câmara de Vereadores.
Já o
advogado da prefeita Tina Monteles, de Anapurus, diz que ela não cometeu
irregularidades: “Nós temos todos os processos licitatórios na maior transparência.
Todas as obras estão lá”, afirma.
A Emboscada
à Equipe do Fantástico
No
início da tarde da quinta-feira (17), no interior do Maranhão, os repórteres Eduardo Faustini e Luiz Cláudio Azevedo investigavam
denúncias de desvio de dinheiro público em duas cidades: Anapurus e Mata Roma,
que ficam a cerca de três horas e meia de carro da capital, São Luís.
A equipe
parou para almoçar em uma churrascaria, na estrada que liga os dois municípios.
Depois do almoço, já no carro, os repórteres foram surpreendidos por um outro
carro, que saiu da estrada e bloqueou a equipe. Três homens saltaram e
apareceram mais quatro a pé.
O bando
cercou os repórteres. Dois bandidos entraram no banco de trás. Os repórteres
explicaram que são jornalistas da TV Globo e estavam trabalhando em uma
reportagem para o Fantástico e saíram do carro, para evitar o que parecia um
sequestro. Foi quando um dos homens tomou a câmera da equipe. Os ladrões
fugiram em dois veículos, levando a câmera.
No
início da noite, testemunhas já tinham identificado alguns dos envolvidos. “Eles são envolvidos com política. Trabalham
na prefeitura. São lá de dentro”, afirmou uma delas.
Ainda na
quinta-feira (18), a polícia identificou e prendeu o PM Raimundo Silva
Monteles. Ele é sobrinho da prefeita de Anapurus, Tina Monteles.
“Ele confirmou que participou da ação. Diz que foi
convidado para acompanhar dois ou três funcionários da prefeitura de Anapurus
para se deslocar para determinado local”, afirma Zanoni Porto, comandante-geral da PM do
Maranhão.
Durante
todo o fim de semana, a polícia fez buscas nas cidades de Anapurus e Mata Roma,
à procura dos suspeitos e do equipamento que foi roubado. As investigações continuam,
e, pelas características do crime, a polícia acredita que não tenha sido
somente um roubo, mas uma tentativa de interromper o trabalho dos jornalistas.
Em nota,
a Associação Brasileira de Emissoras de
Rádio e Televisão (ABERT) se diz preocupada com ações criminosas que buscam
impedir a livre atuação da imprensa na investigação de fatos de interesse
público. A associação pede a apuração no caso e punição dos autores, para que a
liberdade de imprensa e o acesso dos cidadãos à informação sejam assegurados.
Também
em nota, a Abraji, Associação Brasileira de Jornalismo
Investigativo, afirma que identificar e punir todos os responsáveis é
indispensável, para que a impunidade não estimule a repetição de casos
semelhantes. E o Instituto Internacional
de Segurança da Imprensa, sediado em Londres, pede que os agressores dos
jornalistas sejam levados à Justiça.
A
polícia pediu a prisão de mais três pessoas: o secretário de Finanças de
Arapurus, Jairo Lisboa de Sousa; o ex-candidato a vereador Manoel Francisco
Monteles Neto; e Agnaldo Henrique Alves.
Em nota,
a Prefeitura de Anapurus lamenta o ocorrido e pede às autoridades que
esclareçam as circunstâncias do caso.
“Com relação aos parentes, a cidade de Anapurus,
quase todo mundo é parente de todo mundo. Com relação a isso não tem nenhum
problema. Com relação a servidores do município envolvidos, serão
responsabilizados”, diz Márcio Wendles, advogado da prefeita de Anapurus-MA.
“Quando você atenta contra uma equipe de
jornalistas, você tá atentando realmente à democracia e vamos ser duros”, destaca Marcos Afonso,
secretário de Segurança do Maranhão.
ASSISTA AGORA CLICANDO AQUI A MATÉRIA DO FANTÁSTICO QUE TRATOU DA EMBOSCADA E DO LARANJAL ENCONTRADO NOS DOIS MUNICÍPIOS.
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SAIBA MAIS SOBRE O CASO ATRAVÉS DA COBERTURA ESPECIAL DO CORREIO
BURITIENSE:
§ BOMBA: PROGRAMA FANTÁSTICO, DA
REDE GLOBO, ESTÁ FAZENDO REPORTAGEM EM MUNICÍPIOS DO BAIXO PARNAÍBA.
§ FANTÁSTICO: O SHOW DA VIDA DE CORRUPÇÃO DE ANAPURUS E
MATA ROMA VAI AO AR HOJE A NOITE NA TV GLOBO
infelizmente isso acontece em todos os municipios pobres do Brasil. Alem de sugar da maquina publica, pois nao arrecadam nada, ainda desviam em seu beneficio proprio. A maior ladroagem que existe sao as licitações para construtoras. Torna-se mto facil, é so criar uma empresa, colocar em nome de laranjas(geralmente pessoas analfabetas) movimentar por procuração(pessoas ligadas a prefeitura), criar a licitação por baixo dos panos, receber toda grana adiantado e esquentar com nota fria. A obra? faz alguma coisa mal feita lá, as vezes nem faz, isso depende da fiscalização que geralmente nao tem. Aí o povo nem sabe que em um banheiro daqueles pagou-se 20.000,00, ou para uma escola de 70mts pagou-se 200.000,00...ou seja poderiam ser utilizados nem 30% deste valor. Outro absurdo é as locadoras de veiculos, que nem sede tem, nem veiculo tem e paga-se fortunas aos envolvidos.
ResponderExcluirEssas pessoas fazem e nem sentem vergonha e nem pudor por prejudicar tanto esse povo sofrido, desviam sem limites, sabendo que a impunidade impera a anos e anos. E quando a fiscalização chega, ou reportagem chega, roubam cameras e batem na reportagem.
CADEIA NELES!
E olha...talvez um dia chegue tbm em TODOS OS MUNICIPIOS DA REGIÃO...que os casos sao os mesmos!